As pessoas reagem a estímulos. Eles podem ser ações a que estamos expostos ou simplesmente o ambiente que nos cerca. Cores, formas, texturas, temperatura, sons, aromas… Tudo isso tem o poder de suscitar sentimentos e reações em nossos corpos e mentes. Algumas são genéricas e atingem a todos mais ou menos da mesma forma. Uma música frenética, dependendo de suas características, pode nos deixar eufóricos, alegres ou, até mesmo irritados. Cores frias nos acalmam, cores quentes nos ativam.
Mas há também estímulos que tocam indivíduos de um povo, de uma sociedade ou de uma comunidade da mesma forma. São aqueles que têm impacto cultural. De acordo com as experiências e histórico daquele grupo de pessoas, determinada música, paisagem, roupas, danças, podem causar um sentimento de pertencimento, criar segurança, paz de espírito, saudade, conforto. É o que acontece quando a gente toma um chimarrão, passeia nas ruas de nossa cidade, conversa sobre nosso passado.
O reconhecimento de um ambiente como lar passa diretamente pela influência dos estímulos. As cores das paredes da sua sala, os materiais de revestimento que usavam tanto nas fachadas da cidade onde nasceu e aquele sofá de couro de sua mãe são exemplos de impactos arquitetônicos em diversos níveis de percepção. As cores atuam praticamente da mesma forma em todos nós. Os revestimentos das casas de uma cidade resgatam sentimentos e fazem sentido em uma comunidade. Já as recordações dos móveis de família ficam abrigados dentro de um compartilhamento tão particular lá dentro de seu cérebro.
Imagine como tudo isso impacta na sua percepção de lar. Não adianta você morar em um lugar totalmente avesso a sua experiência, que não lhe traga conforto e não converse com seu eu interior. E é aí que reside o maior desafio dos arquitetos: conciliar aspectos de estímulos genéricos, culturais e íntimos. Quando isso é alcançado, você tem uma verdadeira morada, um lugar humano, que conversa com o seu habitat natural e lhe propicia uma experiência singular.
No condomínio Reserva Barlavento, nos dedicamos profundamente ao primeiro e segundo aspectos. A AreaUrbanismo, maior autoridade de urbanismo do país, desenhou o traçado das ruas, pista de caminhada, distribuição dos lotes e das áreas comuns. Enfim, todos os aspectos que impactam na percepção humana de bem-estar. Eles também projetaram o paisagismo, rico em espécies regionais que, juntamente com a arquitetura de pórtico de entrada e dos espaços comuns, desenvolvidos pelo escritório Rafael Grantham Arquiterura, de Rio Grande, realçam e reforçam os aspectos sulistas de nossa terra.
É não abdicando dos aspectos humanos, comunitários e individuais que se consegue criar verdadeiro valor para as coisas. Desenvolver abordagens assim, sem esquecer nunca de olhar pra frente e lançar mão das descobertas tecnológicas e construtivas é quando avançamos, aumentando o sentimento de pertencimento e o orgulho de toda uma cidade.
Carlos Eduardo Silveira
Empresário do ramo imobiliário
Sócio da Maralto Urbanismo e do Reserva Barlavento
Crises são catalisadoras de tendências. Toda vez que somos embarcados em uma, alguns hábitos e necessidades, que já davam sinais de existência, podem emergir vertiginosamente e tomar conta de nossos costumes e do mercado. Foi assim que a gripe espanhola de 1918 ajudou a criar os sistemas nacionais de saúde em muitos países europeus. Não foi por acaso, mas a Grande Depressão de 1929 deixou nos norte-americanos um sentimento de “não desperdiçar” (waste not, want not) culminando na cultura da sustentabilidade e do minimalismo. E foi por causa da Segunda Guerra Mundial que foram definidas as bases do moderno Estado de bem-estar social.
E não é que 2020 nos trouxe uma das maiores crises mundiais pelas quais já passamos? A pandemia do Coronavírus já está consolidando algumas das tendências que estavam surgindo. Não é só o fato do distanciamento social aumentar nossa vontade de calor humano. Algumas necessidades refletem diretamente em nosso morar e trabalhar.
Se a peste bubônica, na Idade Média, mudou exponencialmente o desenho urbanístico e arquitetônico de nossas cidades — becos apertados e casas mal iluminadas deram espaço a ruas largas, a janelas maiores e em maior número — a Covid-19 não passará incólume às novas necessidades de morar.
O hábito de tirar o sapato antes de entrar em casa, por exemplo, pode exigir que os lares ganhem espaço específico no hall de entrada. O aumento substancial dos deliveries de alimentos e compras em geral pela internet vem ao encontro dos recentes lockers nas portarias, onde as encomendas recebidas podem ser armazenadas até o recolhimento do morador.
No que tange ao conforto e bem-estar, as mudanças são ainda mais impactantes. A procura por ambientes ensolarados, com espaços verdes e de contemplação vem crescendo nas imobiliárias. Assim ressurge nos projetos, a importância dos jardins, varandas e das áreas comuns dos condomínios que, compartilhadas, acabam tendo equilíbrio mais eficiente entre qualidade, uso e custo. O corpo é nosso templo, por isso yoga, meditação, contemplação, caminhadas e exercícios físicos também precisam de espaços qualificados, cada vez mais valorizados nos empreendimentos.
A casa é mais o marco inicial e final do dia. Para aqueles que podem trocar a rotina de trabalho pelo home office, a barreira tempo-espaço foi rompida. Mas para que deixe de ser uma realidade temporária e passe a efetiva, os ambientes precisam ser melhor organizados. Não é produtivo para quem tem crianças trabalhar em meio à algazarra, tampouco indicado que latidos do seu cão interfiram na videochamada com um cliente importante.
Arquitetos têm vários desafios a resolver nas novas casas que serão construídas e nas reformas que estão sendo feitas com uma velocidade fora do comum. Apartamentos precisam parecer casas e casas precisam ganhar maior conexão com a área externa.
O mundo dá voltas, mas os valores humanos mais essenciais acabam voltando e consolidando-se como resposta mais contundente ao frisson das novidades efêmeras.
Carlos Eduardo Silveira
Empresário do ramo imobiliário
Sócio da Maralto Urbanismo e do Reserva Barlavento
Uma conversa franca para quem pensa em adquirir um imóvel para morar, trabalhar ou investir.
Carlos Eduardo Silveira, empresário do mercado imobiliário, compartilha todas as quintas-feiras nesta coluna os aprendizados e dilemas de quem se dedica diariamente a este ramo.