A opinião pública é um termo utilizado para representar o senso comum, a tendência da maioria da sociedade. Quando se realiza pesquisas de opinião, se aprende que a sociedade é composta por um conjunto de diferentes visões de mundo e percepções e que essas posições podem mudar conforme o nível de informação e as influências da conjuntura em que se vive.
Bater de casa em casa e ouvir os diferentes tipos de histórias é uma experiência enriquecedora. Se aprende que atrás de cada porta há uma realidade, uma cultura. E as variações estão associadas ao poder aquisitivo da família, à sua faixa etária, ao conhecimento formal e informal e, principalmente, às experiências vividas.
Sabemos que as pessoas não são iguais fisicamente, mas muitas vezes esperamos que elas sejam iguais do ponto de vista comportamental, externando uma opinião similar sobre algo que parece ser muito claro para todos.
No meio de uma pandemia, a vacina parece ser um desses temas. Muitos acreditam que todos deveriam ser pró vacina, tendo em vista que há um efeito em cadeia, o velho dito popular que diz “que uma laranja podre pode apodrecer as demais.”
As pesquisas de opinião indicam que 70% dos brasileiros tendem a se vacinar, estão convictos. Uns 20% ainda estão pensando, irão avaliar o andamento da vacinação, e uns 10% não pretendem se vacinar, uns por receio e outros por convicção ideológica. Tem-se quase 1/3 da população que tem dúvida ou não irá se vacinar.
Precisamos ter sensibilidade social para compreender as motivações dessa parcela da sociedade, dar atenção aos seus temores e preocupações. As pesquisas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião identificaram três grandes lógicas de argumentos contra a vacinação da Covid-19:
1º) cristalização do discurso antivacina = há mais de duas décadas, uma parcela da sociedade desconfia das vacinas. Esse tipo de entrevistado relata histórias de pessoas que passaram mal, associam mortes a determinadas vacinas e, os mais ideológicos, chegam a trabalhar com teses e teorias da conspiração, tratando a vacina como um instrumento de seleção natural. Com a pandemia essa crença ganhou mais força. E tem aqueles que acreditam que a China mandou a doença para vender a vacina.
2º) os que precisam de informação técnica = trata-se de uma parcela de entrevistados que temem tomar a vacina por algum receio, não se sentem devidamente orientados ou esclarecidos e vão precisar de orientação. Esse grupo é composto por vários subgrupos. Têm aqueles que possuem uma doença especifica, tomam medicação e não sabem se há contra indicação. Inclusive as pessoas muito alérgicas tendem a não tomar a vacina, se não tiverem informações mais precisas sobre as reações alérgicas.
3ª) os influenciados pelas fake news = esse grupo é aquele que prontamente pega o celular para mostrar uma notícia, uma foto ou um vídeo de alguém que diz que não se deve tomar a vacina. Recebe as notícias falsas em seus grupos de whats e vai desenvolvendo uma percepção negativa com a vacinação. Na prática esse grupo oscila entre a falta de informação e o medo.
Vivemos a maior pandemia da história moderna. É vital que o processo de vacinação ocorra associado à informação, à orientação e esclarecimentos dos profissionais da saúde. E cabe à sociedade como um todo o combate às fake news!
Ainda na série de análise da pesquisa “O Rio Grande após a pandemia”, neste artigo, sistematizo a percepção do setor produtivo gaúcho sobre a tendência da sociedade após a pandemia. O relatório dessa pesquisa está disponível no site da Assembleia Legislativa.
A pandemia impactou marcantemente o nosso cotidiano e alterou o nosso comportamento. De um lado trouxe consigo receios e medos, e de outro lado, ativou expectativas e motivou a esperança por dias melhores. Nesse contexto a principal inquietação é sobre a evolução política e participativa da sociedade gaúcha após pandemia.
A pesquisa avaliou a percepção do setor produtivo sobre três indicadores:
1º) qual será a avaliação da população sobre os gestores públicos?
2º) qual será o interesse da população sobre as decisões políticas?
3º) e qual será a tendência de organização da vida social dos gaúchos?
Na percepção dos empresários a crença da população nos políticos não irá aumentar a curto prazo, tendo em vista que ela está associada à necessidade de execução de reformas políticas estruturais (como reforma administrativa e política) e do comportamento oportunista dos representantes do povo, que devem adotar uma postura mais voltada ao interesse público. Mais da metade dos entrevistados avalia que após a pandemia a credibilidade dos gestores públicos se manterá ou irá diminuir.
Em relação ao indicador do interesse, os empresários avaliam que a pandemia ampliou a relação da população com os diferentes canais de informação da internet, permitindo um maior grau de acesso à informação. Por outro lado, os gestores públicos passaram a divulgar mais informações sobre suas ações. No olhar do setor produtivo, houve uma aproximação entre muitos gestores públicos municipais e seus cidadãos, o que ampliou o interesse pelas decisões públicas. Como a pandemia acelerou o processo tecnológico e a interação digital entre as partes, os gestores indicam que os prefeitos devem primar pela continuidade dessa evolução com o auxílio de portais de transparência mais amigáveis, aplicativos que facilitem a vida do usuário e sistemas de inteligência artificial que otimizem a execução dos serviços públicos.
É importante registrar que o setor produtivo acredita que a sociedade será mais solidária no pós-pandemia. Acreditam que é latente o desejo de retomada da normalidade, que “todos temos saudade da vida que tínhamos antes”. A pandemia nos deixará com muitas marcas, seja pelas vidas que ceifou, seja pelo pânico que causou ou pelas perdas econômicas que gerou. Para o setor produtivo, a pandemia trouxe consigo a necessidade de resgatarmos a fraternidade, de lembrarmos que “uns dependem dos outros” e que é vital termos consciência de que a vida em sociedade existe para que haja cooperação e apoio mútuo.
A maior preocupação do setor produtivo é com a ampliação da miséria nas cidades com economia frágil. Sendo primordial a atuação integrada entre prefeitos, governo do Estado e Federal, para que haja políticas públicas de apoio e fomento ao desenvolvimento e à geração de emprego e renda.
Indo na carona da percepção dos entrevistados, devemos acreditar que a união será a principal conquista do pós-pandemia, que vamos voltar a abraçar o amigo e estender a mão ou dar apoio financeiro a quem está perto de nós e precisa de auxílio.
O Blog Comportamento e Sociedade será comandado por Elis Radmann.
Socióloga MTb 721
Mestre Ciência Política UFRGS
Diretora do IPO - Instituto Pesquisas de Opinião www.ipo.inf.br
Conselheira ASBPM (Associação Brasileia de Pesquisadores de Mercado Opinião e Mídia).
20 anos de atuação na coordenação de pesquisas de opinião.